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Intervenção de BIDI ~
Sri Nisargadatta Maharaj
Pergunta: pelo fato de eu ter praticado
a meditação do 3º olho durante anos, será que a questão luciferiana está
sintonizada em mim já que a Vibração do 3º olho às vezes persiste?
Eu lhe responderei simplesmente: não se
coloque esse tipo de pergunta.
Quem é Lúcifer?
Quem é o diabo?
Quem é Deus?
Obstáculos no caminho, nada mais.
Não dê crédito a todas essas crenças,
mesmo elas tendo um suporte verdadeiro, neste mundo.
Você não é deste mundo.
Colocar-se esta pergunta é recair na
Dualidade e no medo do bem e do mal.
Quaisquer que sejam as Vibrações, as
Vibrações concernem à Consciência já que a Consciência é Vibração.
Mas não o Absoluto, que não é nem
Consciência, nem Vibração.
No Absoluto, não há olhos, nem 3º olho,
nem 4º olho.
Há o Centro, o Coração, o Amor e nada
mais.
E nenhum obstáculo (mesmo o diabo ou
Lúcifer ou outro) pode impedir de ser o que você É, desde toda a Eternidade.
Só o peso das crenças e do saco de
pensamentos é um obstáculo e há apenas você que pode parar de nutri-lo.
Nenhuma montanha pode parar o Amor.
Nenhum mundo pode parar o Amor.
Nenhuma força pode parar o Amor.
Eles podem simplesmente dar a ilusão de
parar.
É nesta ilusão de parar o Amor que o
ser humano acredita.
Mas se você for além da crença e da
Vibração, isso não tem qualquer peso, qualquer consistência e qualquer Verdade.
Tranquilize-se.
***
Pergunta: quando a minha consciência
sente ser diluída no vazio, no infinito, ela se apavora e se retrai,
interrompendo assim a sua diluição. O que devo refutar para superar esse
andamento?
Neste curso, nada mais há para refutar.
Há apenas que continuar a ser um
observador, até o momento em que o próprio observador, que observa a retração,
desaparecer, ele também.
Nesse andamento, como você o nomeia, o
teste da refutação não é utilizado.
Há ainda apenas alguém que observa a
cena, que tem consciência de que há um teatro, mas que vai em breve sair.
Nada há a fazer para sair, apenas
permanecer aí, permanecer tranquilo, fazer ainda o jogo do observador, até o
momento em que o próprio observador desaparecer, sozinho.
Nada mais fazer, nada mais ser.
Deixar Ser e deixar como está.
Essas são as palavras mestre.
Porque, a partir do momento, nesse
andamento aí, em que você aceita nada mais dirigir, nada mais observar, o
observador desaparece por si só, assim que você sugerir que nada há a observar.
E então, nada faça.
Esse curso é lógico.
Ele precede a Dissolução.
Nós nos conectamos a uma pergunta
anterior referente ao sentimento de ser uma outra pessoa, ou mais de uma
pessoa, de alguma forma, o que é ainda melhor.
Isso foi denominado, por alguns místicos,
no ocidente, ‘a noite escura da alma’.
Portanto, limite-se a ver o que se
desenrola e aceite não mais constatá-lo, tampouco, sem refutar.
E aí, você vai se aperceber de que a
Dissolução da consciência ocorre e não haverá mais retratação.
A retração é devido ao próprio
observador.
Vocês sabem, é claro, na física que
vocês nomeiam física quântica de ponta, que o observador modifica o que é
observado.
Portanto, enquanto houver observador,
há modificação.
O observador deve desaparecer por si
só.
Basta simplesmente não mais se
interessar por ele, nem pela retração.
E tudo isso vai desaparecer.
Mas é uma fase normal.
Porque a retração o conduz ao Centro
que é o centro de todos os centros e de todas as periferias.
Somente naquele momento todas as
periferias, sem qualquer limite, são reveladas.
É a perda total do sentido de alguma
identidade, de alguma pessoa, de alguma história, de alguma emoção, de algum
saco, de comida como de pensamentos.
Eu diria que, talvez, o mais difícil,
nesse curso aí, como você o nomeou, seja aceitar nada mais fazer, nada mais
ser, nada mais observar, tampouco, mas sem agir, porque, quando há uma ação, há
uma tensão e esta tensão afasta do Centro.
Esqueça-se e desapareça.
E você irá desaparecer, isso é
inelutável.
E isso não está inscrito em um tempo ou
em um espaço, mas está inscrito na Eternidade, porque você é a Eternidade.
A retração da alma, depois do Espírito,
são os últimos solavancos do indivíduo.
Observe-os e deixe desaparecer a
observação, sem desejá-lo, sem decretá-lo.
Observe, de algum modo, o
desaparecimento do observador.
E, aí, não haverá mais de qualquer
maneira que observar: você terá estabelecido o Absoluto.
Aliás, naqueles momentos em que você
fala sobre o curso final, mesmo se houver retração da alma ou do Espírito, o
observador percebe claramente que se instala algo muito mais amplo do que ele
próprio.
É justamente o que está por trás do
observador: Você.
***
Pergunta: apesar da sua maneira
trovejante de entoar as suas respostas às perguntas, mantendo-se a intenção e a
atenção, depois de alguns minutos o sono vence e até mesmo o som da sua voz
desaparece, ao ler, ao escutar somente ou combinando os dois. O melhor é deixar
assim?
Inteiramente, porque quanto menos você
compreende, mais você ali está.
E quanto mais você cai no sono, mais
você ali está, considerando que possa ali haver algo mais.
Pois, o que quer escutar e o que quer
compreender, sem entender, é o quê?
O ego ou o Si.
Se o ego ou o Si se extinguirem, ou
seja, se a consciência se extinguir, o que resta?
O Absoluto.
A um dado momento (que não depende de
um tempo futuro, mas, sim, do lugar onde você se coloca), bem, o Absoluto será
estabelecido no que você é.
Não há então, efetivamente, nada a
empreender, nada a fazer, e nada a não fazer.
Apenas, aí também, deixar desenrolar-se
o que se desenrola.
Isso prova que nós atravessamos, nesta
conversa, largamente, a barreira da escuta, a barreira da compreensão, para
penetrar sem dificuldade no que eu chamaria de entendimento.
Esta conversa já rola entre nós.
Você aceita nada mais manter, você não
o compreende, mas você vive isso.
É então a Verdade além da experiência.
Não é, portanto, a via correta ou o
caminho correto, mas a atitude correta e o local certo para olhar.
É, portanto, o ponto de vista correto.
Aquele que é justo porque ele escapa ao
saco de pensamentos, do mesmo modo que você escapa ao saco de alimento e à
própria consciência.
Você entra no entendimento, no sentido
figurado, como no próprio.
O entendimento do som do Absoluto, da
Morada da Paz Suprema.
É muito exatamente isso: o que você É.
Eu diria: não se mova mais, não faça
mais nada, não seja mais nada.
Então, a Transparência está aí: você
não para mais nada, você não existe mais no parecer e você desaparece, totalmente.
Então, aí, emerge o que você É: Isso.
***
Pergunta: eu tenho a impressão de ter
voltado no tempo, involuntariamente, nos velhos esquemas de ação / reação, a
personalidade e o ego onipresentes. Eu tenho então a impressão de não conseguir
Ser. Como sair disso?
Não existe qualquer cenário de
resolução aí onde se situa o que você vive.
Você constata, como você disse, a ação
/ reação, o jogo do ego, o jogo da duplicidade, da Dualidade.
Você não pode se servir da alavanca
situada no mesmo nível para se extrair, porque disso que você queria se extrair
vai se reforçar.
Isso é inelutável.
Porque a consciência, situada nesse
nível, não lhe é de qualquer serventia para sair disso, porque qualquer solução
trazida ao mesmo nível será apenas efêmera e transitória.
Porque tudo isso pertence ao mundo da
ilusão.
Você ainda acredita ser uma pessoa que
está lutando.
Você ainda acredita estar em um mundo
que existe.
O seu ponto de vista está inserido na
realidade que você vive, que não é a Verdade.
Esta realidade não pode ser de qualquer
ajuda, ela é útil para agir na ação / reação.
Se você quebrar um braço, você pode
fazer todas as orações do mundo, ele permanecerá quebrado: é preciso
engessá-lo.
Isso não pode funcionar assim para sair
do jogo do ego e da personalidade.
Você nada pode engessar, naquele nível.
Isso seria apenas uma correção
passageira.
A solução está em outros lugares.
Não a remeta no mesmo tempo da ilusão,
da ação / reação, mais saia deste espaço confinante da personalidade.
Aí também, há uma falha de ponto de
vista, importante, que não é mais narcisismo, mas uma conveniência.
Uma conveniência para o efêmero, uma
conveniência para o ego que quer resolver um problema quando ele não tem
qualquer meio para isso.
É preciso então aceitar não querer
resolver o que quer que seja, mas sair desta linearidade.
Coloque-se em outros lugares.
Não simplesmente mudando de ponto de
vista, mas aceitando que você não é tudo o que representa.
Você ainda está no palco do teatro,
querendo isso e querendo aquilo.
Você quer colocar um gesso.
Mude de ponto de vista.
Eleve-se.
Eu sequer lhe falo de Abandonar o Si,
mas de se Abandonar à Luz.
Você é mais inteligente do que a Luz,
você é?
Será que o seu ego é superior à Luz?
Será que o seu ego acredita que ele é o
mestre da sua vida?
Se sim, então continue a sofrer, se
não, eleve-se.
Não deixe o ego comandar.
Deixe a Luz entrar.
É isso, o Abandono à Luz, que irá
permitir-lhe ir para o Si, antes de realizar o Abandono do Si.
Mas se você for corajoso, seja
diretamente o que você É: esqueça tudo isso, não dê peso, veja o que o
incomoda.
Eu não disse, assim, que é preciso
fugir do que o incomoda, mas se eleve, torne-se mais leve, aí também.
Não fique atolado na oposição e na
contradição, na ação / reação, porque toda ação provoca uma reação, e toda
reação provoca outra ação.
E isso jamais tem fim, ao contrário da
trapaça espiritual que quer fazê-los crer que o Karma irá resolver o que quer
que seja.
Não há Karma.
O Karma refere-se apenas à pessoa, não
ao Si, e menos ainda ao Absoluto, se eu puder me exprimir assim.
Portanto, você se submete, você mesmo,
à ação / reação, reagindo.
E quanto mais você reage, mais há
outras ações aparecendo e mais isso o acorrenta, ao passo que você está
buscando a Liberdade.
É então questão de sair da ação /
reação.
Coloque-se sob a ação da Graça, ou
seja, deixe a Luz fazer.
Deixe a Luz se ocupar de tudo.
Enquanto, você, você quiser se ocupar
de alguma coisa, isso irá fracassar, é inelutável.
Em quem você confia?
No seu ego ou na Luz?
Onde você coloca o seu interesse: no
ego ou na Luz?
É sua responsabilidade.
Você não pode manter a ação / reação e
pedir para que a ação / reação cesse.
Seja lógico.
Eleve-se acima da ação / reação e você
irá constatar, por si mesmo, que a reação não é mais sua, assim como a ação não
é mais sua.
E que, realmente, naquele momento, é a
Luz que age e não mais você.
Não é questão, tampouco, de pedir para
a Luz agir, porque isso é ainda o ego que quer colocar a Luz aonde ele quer,
mas não aí onde é preciso.
Como você pode saber o que é preciso,
já que, irremediavelmente, você se mantém na ação / reação permanente e
incessante?
Não há qualquer satisfação e qualquer
apaziguamento aí dentro.
Isso está muito além da noção de
confiança.
É realmente o Abandono.
É preciso que você se doe, você mesmo,
à Luz.
E a Luz irá se doar a você.
Mas você não pode pedir à Luz o que
você quer, porque o que você quer não é o que quer a Luz.
Você não tem qualquer meio de saber se
há uma adequação entre os dois e, na maioria das vezes, há uma total
inadequação.
Porque o que pede o ser humano é sempre
formulado a partir do ego, e todo pedido formulado a partir do ego apenas faz
reforçar o ego, a pessoa, a ação / reação.
Quando você se Abandona à Luz, você
nada tem a pedir para ela.
Isso irá extraí-lo do palco do teatro e
você irá se instalar confortavelmente na poltrona que assiste ao teatro.
Isso é uma etapa.
É preciso tornar-se consciente do fato
de que pedir está sistematicamente inscrito na ordem da personalidade.
Por outro lado, pedir à Luz, é
suficiente.
Não é conveniente pedir à Luz para
fazer isso ou aquilo.
Vocês acreditam que ela tem necessidade
dos seus conselhos, dos seus argumentos, dos seus limites, ou das suas crenças?
Vocês são Luz.
Mas se houver demanda de Luz (outra
senão a demanda de Luz, sem adjetivo por trás), bem, é o ego que se expressa.
E a Luz jamais responde ao ego,
contrariamente ao que vocês creem ou contrariamente ao que quiseram fazê-los
crer as religiões.
Entregar-se à Luz é demitir-se do ego:
é um ou outro.
Em caso algum isso pode ser os dois.
É disso que é preciso apreender-se.
Lembrem-se: o mundo não existe.
Tudo o que se projeta na tela da sua
consciência (o mundo, o inimigo, assim como o amor) é apenas o reflexo do seu
ser Interior, o reflexo dos seus próprios desejos inscritos na personalidade.
Se não houver mais personalidade
agindo, não há mais desejo e a Luz trabalha.
E você se torna o que você É: Luz.
Nada pode atingi-los.
Somente o ego é atingido e ele o será
todo o tempo, porque o ego é construído no medo e na falta.
O que você É não é o ego, nem o medo,
nem a falta, mas é Amor, Luz e Absoluto.
Não existe qualquer solução para o
sofrimento, na ilusão.
Não existe qualquer solução para o
sofrimento, na personalidade.
O Si vai representar um sucedâneo de
Paz, pondo fim ao sofrimento ou, em todo caso, à percepção da sua ilusão.
O Absoluto põe fim à própria percepção
do sofrimento.
Eu poderia dizer de outra forma que, no
Absoluto, mesmo se houver sofrimento do saco de comida, o sofrimento não faz
mais sofrer.
E esse é o objetivo.
Enquanto houver ego, há atração para o
sofrimento.
Enquanto houver o Si, há curativo.
Mas chega um momento, um espaço, em que
tudo isso não pode mais atuar, em que tudo isso se extingue, porque isso não é
mais alimentado nem pelo ego, nem pelo mundo, nem pela ação / reação.
Todos vocês sabem que, quando um
sofrimento é extremo (seja uma perda, uma dor, ou qualquer evento extremamente
traumatizante para o ego), o que acontece, na maioria dos casos?
Há um sentimento de irrealidade, uma
saída do espaço-tempo linear: tudo parece se desenrolar em marcha lenta porque
a consciência não está mais no ego, mas ela se extrai, de maneira temporária,
do ego, e até mesmo do Si.
É, aí também, um outro vislumbre do
Absoluto.
Essas experiências foram descritas por
toda parte.
Se você realizar isso, você irá
constatar que toda a sua vida, nesta ilusão, não poderá ser afetada pelo menor
sofrimento.
Mas para isso, é preciso soltar, é
preciso aceitar soltar.
Quem é o mestre a bordo?
E a bordo de quê?
***
Pergunta: será que viver a Onda do Éter
é viver a Luz Vibral e a Onda da Vida, ao mesmo tempo?
Viver a Luz Vibral e a Onda da Vida, ao
mesmo tempo, é o Absoluto, que resulta na não Vibração, na não consciência, na
Morada da Paz Suprema.
É o momento em que não há mais
pensamento, emoção, aflição, nem mesmo Alegria, mas um estado de tranquilidade
total, sem mesmo ter necessidade de deixar esse saco de comida ou esse saco de
pensamento.
Porque há uma desidentificação total,
real e completa, desse saco de comida e desse saco de pensamentos.
É isso o Absoluto.
***
Pergunta: a vida me mostra, atualmente,
de maneira física, que as comportas estão fechadas, que há uma dificuldade de
pôr para funcionar, ao passo que a Fluidez sempre esteve presente
anteriormente. Eu não chego a apreender a profundeza.
A Fluidez da Unidade é o reflexo e a
manifestação do estabelecimento do Si.
Quando as comportas estão fechadas,
quando a Vibração se faz mais discreta ou ausente, quando a Fluidez desaparece,
sem, no entanto, ser substituída por resistências, mas simplesmente, como você
disse isso, pela parada das comportas que estão fechadas: um fluxo, que estava
aí, não está mais aí, é um sinal muito bom.
É a retração da alma e do Espírito, que
conduz ao Absoluto.
Há apenas que abandonar, totalmente, o
Si.
O que irá permitir compreender que o
que você nomeia sua vida, é apenas uma ilusão.
É parando de nutrir a ilusão, mesmo
pela suspensão da Fluidez da Unidade, que chega a Morada da Paz Suprema.
Considerando que eu possa empregar a
palavra chegar, porque não há continuidade.
O que você vive, como em uma pergunta
anterior, é exatamente a mesma coisa: você mantém um bom curso.
Se você se Abandonar totalmente a isso,
o Absoluto está aí e você É Isso.
Não se interrogue mais sobre o sentido
do que você vive, do que vive a sua vida, mas se interrogue sobre a Essência do
que acontece.
Você sai do Si no não Si que, ele, não
se opõe ao Si.
E acontece o Absoluto.
Não procure restabelecer o que quer que
seja do passado, mas se instale, de maneira mais lúcida, no que o que você
denomina sua vida, dê-se a experimentar.
É a prova de que o Absoluto está aí.
O Absoluto apenas pode existir no
Abandono do Si.
É muito exatamente o papel que você
desempenha: observar e testemunhar sobre isso.
Nada procure restabelecer, mas, muito
mais, estabelecer-se no que É, desde toda Eternidade.
A partir deste momento, você não se
colocará mais a questão da Fluidez, porque isso será evidente.
Tudo não será mais simplesmente Fluido
e fácil, mas você estará bem fora de tudo isso, deixando então a vida
desenrolar-se, sem ali interferir, no que você É.
Dessa maneira morre o ilusório, dessa
maneira morre o efêmero, antes da sua hora, deixando o lugar para o espaço do
Absoluto.
Vocês são cada vez mais numerosos (e
vocês o serão cada vez mais) a ser, de algum modo, confrontados com isso.
Coisa à qual o ego vai querer
concerni-los, fazendo-os crer que isso é absurdo.
Não o escutem.
Se, para ele, é absurdo, isso é bom.
***
Pergunta: por que eu tenho a impressão
de estar aguardando, como se me faltasse algo para passar, para bascular, no
Desconhecido, no Absoluto?
Eu chamo a sua atenção para o fato de
que esta pergunta é um contrassenso.
Porque, se você tiver a impressão de
que falta algo para bascular no Desconhecido e no Absoluto, nenhum elemento do
que lhe é conhecido (ou cognoscível) pode permitir-lhe ir para o Absoluto.
E nada pode faltar ao Absoluto, nem ao
limitado.
Existe, simplesmente (e isso de maneira
geral, que não é específico de você), o que foi nomeado (nas perguntas
anteriores): a Última Retração, seja da alma, seja do Espírito, que recusam
render as armas e capitular.
Deste modo, você não tem que procurar o
que falta porque nada falta.
Você não tem que experimentar uma
impressão de espera (porque a espera o coloca no tempo ou na busca), mas
aceitar que isso seja assim, isto é: ser, cada vez mais, o observador disso,
sem se colocar questões, sem nada refutar (aí onde você está) e aguardar,
pacientemente (sem nada esperar porque irá desaparecer por si só), que o
observador se dissolva.
Portanto, não se coloque a pergunta do
porquê, nem do que quer que seja que poderia faltar, mas, simplesmente, deixe
desenrolar-se esta espera.
Mas você não é esse que espera.
Você é o que observa.
Isso é profundamente diferente.
A partir deste momento, o contrassenso
poderá desaparecer por si só.
Porque você não irá buscar um sentido
ou uma resposta, mas, sim, você irá constatar, por si mesmo, o que se
desenrola.
E o que se desenrola não pede, nem
questão, nem interrogação, mas, simplesmente, uma lucidez, aí também.
Observar, ir além, aceitar superar
aquele que experimenta e que observa.
É, já, de algum modo, ir levantar, sem
procurá-lo, o que está por trás de tudo o que se joga.
Se você aceitar isso (permanecer
tranquilo, nada procurar: nem resposta, nem falta), então, tudo vai chegar.
Não há sequer que mudar de ponto de
vista.
Há apenas que observar esse ponto de
vista e deixar como está.
Aí também, nós conectamos esse último
curso do Abandono do Si.
O Abandono do Si (como o Abandono à
Luz) não é uma ação da vontade, nem uma decisão do ego, mas sim, o que eu
chamaria de capitulação do ego e de capitulação do Si onde nenhuma ação é
necessária, onde nenhuma decisão é indispensável.
Simplesmente, observar o que irá pôr
fim, seguramente (daí onde você está), ao próprio observador.
Você irá constatar, aliás, que, assim
que o porquê cessar, assim que a espera cessar, tudo está aí.
Isso acontece, sempre, dessa maneira.
Foi dito (por alguns Anciãos) que a
espera e a esperança não eram a mesma coisa.
Eu lhes digo, quanto a mim, que a
espera e a esperança devem cessar, agora, tanto uma como a outra.
Porque não há mais tempo, em todos os
sentidos do termo.
O Tempo está consumado, os Tempos
terminaram, portanto, vocês saem do tempo para entrar no Espaço.
E não busquem, tampouco, embarcações.
São vocês a Embarcação.
Mesmo se, é claro, existem
circunstâncias específicas e particulares em que o que vocês denominam
embarcações exógenas devendo intervir, mas isso não lhes diz respeito.
Ocupem-se da sua Embarcação.
Porque vocês São uma Embarcação.
É isso que acontece.
***
Pergunta: originalmente, mais mental do
que no corpo, às vezes, o desejo sexual me leva. Então, com a minha escolha do
Absoluto e tudo isso, eu estou confuso.
Você não pode desejar o Absoluto já que
você o É.
Lembre-se: o Absoluto contém tudo,
mesmo a ilusão.
Por que você quer excluir o que quer
que seja do Absoluto?
Você apresenta as coisas como se fosse
um ou outro.
Quem disse isso, senão a sua própria
cabeça?
Em nome de quê?
Deixe esse corpo viver o que ele tem a
viver ou então, corte o que excede.
Mas isso não fará desaparecer o que
quer que seja.
É você mesmo que se corta de si
próprio, colocando uma oposição aí onde não existe, uma contradição aí onde não
existe.
O que vive esse corpo, o que vive esse
mental, não se refere ao que você É.
Seja o que você É, além do Si e,
depois, você irá olhar o que acontece, nesse corpo como nesse mental.
Mas não faça o inverso: isso é colocar
a carroça na frente dos bois.
Você não pode se preocupar com o
Absoluto.
Isso não é uma busca.
Isso não é uma Realização.
Isso é uma Liberação.
Mas colocar a questão da liberação traz
de volta o que você acreditava ter liberado.
Mas quem disse que é preciso estar
liberado desse corpo para viver a Liberação?
Você não é esse corpo.
Você não é, tampouco, o que excede.
Não há qualquer conflito (ou qualquer
contradição) senão em você.
Será que o Absoluto me impediu de ter
filhos?
Nós não estamos em uma religião
castradora.
Faça o que a vida lhe pede.
Esse corpo lhe pede coisas.
Esse mental lhe pede coisas.
Você é isso?
Você se identifica a isso?
Enquanto você der peso a uma
contradição, enquanto você atribuir, ao desejo, virtudes opostas ao Absoluto,
você mantém, você mesmo, a sua própria Dualidade.
Deixe o Absoluto ser o que você É, e eu
diria: o resto irá se seguir.
Coloque os bois e a carroça irá se
seguir.
No outro sentido, isso não funciona.
Não há Passagem do ego (ou do Si) ao
Absoluto.
Por outro lado, assim que o Absoluto
for o que você É, as Passagens se fazem sem interrupção e sem descontinuidade.
Mas não coloque a carroça na frente dos
bois: deixe a ordem das coisas se estabelecer sozinha.
Senão, você pode criar não importa qual
crença: que se você usar bigode, você não pode ser Absoluto, porque não.
Mas isso permanece no domínio das crenças.
Não há qualquer verdade, por trás
disso, mesmo relativa.
São apenas suposições.
Deixe estabelecer o que você É
(Absoluto) e o resto você verá por si mesmo (mas não do ponto de vista do ego
ou do Si).
Porque não é preciso confundir o desejo
e a necessidade, o desejo e a falta.
A expressão de um desejo do corpo, de
um desejo do mental, é o Absoluto.
Isso não é contraditório (nem oposto),
mas há uma ordem: a carroça ou os bois.
Mude, aí também, de posição.
Não emita julgamento.
Não emita suposição.
Porque o ego vai lhe propor obstáculos.
Para você, isso pode ser o que você
chama de desejo sexual e, aliás, ele chega a fazê-lo crer que porque há um
desejo, o Absoluto não pode estar presente (o que é, evidentemente,
absolutamente falso).
Você se deixa cair na armadilha do seu
próprio ego que o submete a uma equação com uma impossibilidade.
Seja Absoluto e, depois, você verá o
que acontece.
Isso não terá qualquer espécie de
importância.
***
Pergunta: desde a minha infância, eu
experimentei vários lutos de pessoas pelas quais eu tinha muita afeição e eu
não senti qualquer emoção. Isso era tranquilo em mim. Há três semanas, a minha
irmã mais velha me disse que ela tinha um câncer muito grave e, quatro dias
depois, aconteceu um outro grande problema. Desde então, eu sinto, quase que
permanentemente, sentimento de tristeza, desamparo, medo, traição. Eu não sou
absolutamente chegado a refutar. Como se tudo que eu acreditava integrado
tivesse desaparecido. Você pode me ajudar nesta etapa?
A vida do ego vai lhe apresentar várias
vezes o mesmo prato.
E os pratos serão cada vez mais
difíceis de digerir.
O que acreditava ter superado, um belo
dia, não está mais superado.
Isso é a visão do ego, na linearidade
do ego.
No que isso implica?
Em não mais se colocar no ego.
Porque, aí, o que se manifesta (como
você o disse), é a culpa, a síndrome do salvador que não pode salvar, que se
encontra de pés e mãos atados.
Porque vive uma injustiça e, portanto,
uma tristeza.
Não é unicamente a perda que é
considerada, mas, sim, isso.
Isso significa que havia, bem
escondido, no Si, restos do ego típico de responsabilidade, típico de salvador.
O Absoluto não tem o que fazer disso.
O que você chama de experiências, em
meio ao Si, é, de fato, uma escadaria (ou uma avenida) que lhe foi aberta para
você se desembaraçar de tudo isso.
Lembre-se: é sempre uma questão de
ponto de vista, mesmo sem falar do Absoluto.
O que você poderia denominar uma perda,
em um primeiro momento, descobre-se (em um outro momento) um ganho inestimável,
em outro nível.
O que a lagarta chama de morte, a
borboleta chama de nascimento.
Qual ponto de vista você adota: aquele
do ego (que o lembra sobre a ordem), aquele do Si?
Ou você decide deixar os dois, além de
toda noção de aflição ou de paz?
Porque a Morada da Paz Suprema não é a
tranquilidade do Si.
É isso que vem lembrar a você o que
você denomina sua vida.
Isso o leva a esclarecer e a iluminar
algumas ligações, alguns apegos, na noção de família.
Porque o que a sua irmã (ou você) chama
de morte, o seu Absoluto chama de Liberdade.
Aí também, onde você se coloca: você
está contente por esta alma e este Espírito que encontram o Absoluto muito em
breve, ou você sofre por uma perda ou uma responsabilidade, uma culpa?
A questão está somente aí.
É a isso que o submete a sua vida, o
seu ego que estava escondido na sombra do Si.
Relevar um desafio não é tornar-se
potente em relação a um acontecimento, não é negá-lo, mas integrá-lo.
Porque todo acontecimento da vida (que
você possa me descrever, qualquer que seja) pertence apenas à ilusão.
Portanto, você se recoloca, por si
mesmo, na ilusão, mostrando a você, dessa maneira, ao que você está apegado.
Você não pode estar apegado e Liberado.
É um ou outro.
E esses acontecimentos colocam-no
frente a isso.
Você permanece apegado ou não?
Vá além dos acontecimentos, além dos
afetos, além dos choques.
Coloque-se a questão da significação,
profunda e real.
Você está apegado?
Ou você está Liberado?
É um ou outro.
O ego irá escolher, sempre, o apego, a
culpa.
O Absoluto é Liberdade.
Cabe a você ver.
Pedir ajuda mostra, também, a culpa.
Como eu poderia fornecer ajuda ao que
não existe: a sua pessoa?
Qual peso você dá à sua pessoa, aos
seus apegos?
É preciso desconectar, na totalidade,
todos os circuitos, mesmo o mais considerável.
É um ou outro.
E, mais do que nunca (para você como
para todos), isso poderá ser cada vez menos um ou outro.
Os Tempos terminaram.
A hora do Espaço chegou.
O Absoluto está aí.
É isso o que vocês São: de todo tempo,
de todo espaço e de toda a Eternidade.
Então, é um ou outro.
Vocês não podem levar seus desgostos.
Vocês não podem levar seus apegos.
Vocês não podem levar seus sofrimentos.
Vocês não podem levar o que excede.
Será que vocês compreendem?
******
Mensagem do Venerável BIDI no site
francês:
03 de junho de 2012 - BIDI2 - Parte 2
(Publicado em 04 de junho de 2012)
***
Trecho traduzido para o português por
Zulma Peixinho
_________________________
Questão: há vários anos eu leio e
medito, a fim de viver outra coisa que não minha consciência comum, a fim de
viver o Amor. Eu não superei a etapa da Vibração. De um lado, tudo vai bem,
porque não tenho qualquer temor sobre minha evolução. De outro lado, ser um
Liberado vivente, eventualmente, seria uma coisa extraordinária. Quais são, em
mim, os bloqueios ou a atitude a ter?
Bem, é muito simples: pare de ler e
pare de meditar.
Isso se tornou, agora, obstáculos os
mais importantes porque, através do ler e através da meditação, em seu caso, há
uma vontade.
Enquanto existir a mínima vontade de ser
um Liberado, você não será liberada, porque você já o é.
Portanto, você não pode querer algo que
já é.
Você quer viver o Amor, mas você É o
Amor.
Portanto, você põe, você mesmo, uma
distância com o que você É.
Há vezes em que é preciso aceitar que
houve tempo passado a ler, a meditar, a orar, a ter exercícios espirituais.
Se nada acontece, ao final de tanto
tempo, coloque-se a questão da utilidade.
Hoje, nesse mundo, há seres que
realizam o que eles São e que são Liberados Vivos, instantaneamente, sem,
jamais, ser colocada a questão de uma meditação ou de uma leitura.
Por quê?
Porque eles estão instalados na
Transparência.
Eles nada pararam.
Eles aceitaram desaparecer.
Ora, você não quer desaparecer: você
quer aparecer.
Você apreende toda a diferença?
Você exprime uma busca.
Você exprime uma procura.
Você exprime uma falta de perfeição.
Portanto, você exprime uma dúvida sobre
o que você É.
E, enquanto essa dúvida está presente,
o ego toma a dianteira.
Pare tudo isso e coloque-se, e isso
será possível porque, naquele momento, toda vontade desaparecerá.
É claro, eu não diria isso àquele que,
jamais, nada procurou, porque ele não está, suficientemente, aquecido para
procurar em um canto, em algo que não tem canto.
Mas você procurou, suficientemente.
Portanto, é muito simples: resta,
apenas, fazê-lo aceitar em seu ego.
Se a Vibração está aí, nada mais há a
fazer: viva a Vibração, viva o Som, viva a Respiração.
Ajude-se, se quiser, com o que lhe
propõe seu saco de alimento, e é tudo.
Deixe o saco de pensamentos tranquilo:
se ali se encontram – no interior – os desejos, as necessidades, as faltas, a
espiritualidade (que é, como eu disse, a maior das farsas: você já é
espiritual).
O problema não é o espiritual a
encontrar ou a procurar, é a opacidade do material.
Se você deixa tranquila a opacidade do
material, ela se tornará Transparente.
Em contrapartida. Se você a agita, ela
se tornará cada vez mais opaca e pesada.
Aceite renunciar a tudo o que você
adquiriu.
Entregue tudo.
Eu não falo do que você tem nos bolsos,
é claro: eu falo de tudo o que você adquiriu através de suas leituras e sua
meditação.
Ou, se prefere, volte a tornar-se uma
criança virgem de todo conhecimento.
O conhecimento é apenas ignorância.
O conhecimento é um afastamento da
Verdade.
Isso lhes foi explicado durante
numerosos anos, seja pelos Arcanjos, pelos Anciões.
Todo conhecimento é uma ilusão.
Ele lhes dá a impressão de possuir, mas
são vocês que são possuídos.
O conhecimento possui-os e priva-os do
Absoluto.
O único verdadeiro Conhecimento é o
Absoluto: ele faz de vocês um Liberado Vivo.
Você pode, absolutamente, tudo ler
sobre o Amor e viver todas as meditações as mais realizadas, em que isso o
avança, agora?
A nada mais.
Porque todos os patamares necessários
foram cruzados.
Resta-lhe, apenas, abandonar tudo isso.
Porque nada disso pertence-lhe e nada
disso é a Verdade.
Aceite estar nu.
Aceite sua ignorância do Absoluto, e
você viverá o Absoluto.
É o que você É.
***
Questão: cada vez mais, sinto-me em
Comunhão com a natureza. Entretanto, pensamentos dispersivos e atitudes de
sedução permanecem, o que me afasta disso. Nesses momentos, eu volto a
centrar-me. O que fazer mais?
O que existe após a Comunhão?
Isso lhes foi explicado (não por mim):
a Fusão e a Dissolução.
Você se compraz na Comunhão – que é uma
forma de sedução – e mantém a sedução, porque há um gozo e, depois, outro gozo
surge, outro desejo surge.
Porque é preciso ir além da Comunhão,
além do gozo.
Para isso, é preciso Fusionar.
Para isso, é preciso aceitar deixar-se
Dissolver, pela natureza, pelo Duplo, pelo CRISTO, pelo que você quiser.
Você está pronto?
Não há bloqueios, exceto você mesmo.
A Comunhão, com o que quer que seja, é
uma aproximação do Êxtase.
Mas não é o Êxtase.
Não é o Contentamento.
Não é a Morada de Paz Suprema.
A prova: você sai disso.
É subentendido – pelo que você vive e
pelo que se manifesta – que você não ousa ir além da Comunhão.
Você não se Abandona.
Você quer continuar a controlar e a
dirigir: aí está o obstáculo.
O que lhe propõe a natureza não é,
unicamente, uma Comunhão, como o Duplo, como o Sol, como o que vocês nomeiam
MARIA, ou CRISTO, ou outros.
É preciso ir para isso.
É você que decide.
Não procure pretextos ou álibis no que
não seria resolvido.
É, simplesmente, sua consciência que
ainda não decidiu aniquilar-se (esquecer-se, mesmo), por sede de experiências e
de experimentações.
Mas você está livre disso: não conceba
qualquer culpa aí.
Mas você não pode desejar uma coisa e
manter outra coisa.
Como para uma das questões anteriores:
veja, claramente.
Não procure algo que estaria escondido
ou que o impediria.
Mas é, simplesmente, sua aptidão para a
Comunhão com a natureza, que foi uma etapa importante, e que, hoje, é um
obstáculo.
Vá mais longe.
Ouse.
Não há, jamais, outra coisa que não o
Si, mesmo, e o Absoluto.
Se esse mundo é ilusão, tudo o que ele
lhes apresenta é ilusão, mesmo se existam, em seu seio, elementos – como a
natureza, um Duplo, um ser espiritual – com o qual vocês têm que superar a
Comunhão e a Fusão, a fim de viver – ou preparar – a Dissolução ou a
Deslocalização ou a Multilocalização, ou seja, reencontrar a Liberdade.
A Comunhão não é, totalmente, a
Liberdade.
Ela é um encaminhamento para a
Liberdade, mas ela não realiza, jamais, a Liberdade.
É uma preparação.
Vocês devem apoiar-se nisso, se vocês
têm essa necessidade, mas não fiquem fixados nisso.
***
Questão: eu aspiro ao Absoluto, vivendo
o Abandono do Si, que eu reconheço, desde pouco tempo, efêmero. Mas não se pode
Abandonar o Si sem ali estar, previamente, estabelecido. Você poderia
esclarecer o que permite o estabelecimento comprovado no Si, porque não se pode
Abandonar um estado de ser no qual não se está, ainda, instalado,
permanentemente?
Sejamos claros: o Absoluto não pode ser
uma aspiração.
O Absoluto não pode ser, de modo algum,
uma finalidade.
É um Final.
Não é um estado que decorra de outro
estado.
Simplesmente, para aqueles que
realizaram o Si, é preciso Abandonar o Si, Realizar o «eu sou» para,
finalmente, descobrir o não Ser.
Mas não é uma lógica sucessiva.
É perfeitamente possível, e esse foi o
caso para muitos Irmãos e Irmãs, em todos os tempos, passar, diretamente, do eu
ao Absoluto.
Essa Passagem não é uma.
É, simplesmente, a ruptura do eu, por
uma circunstância específica (traumática ou outra), que permite a Liberação.
Querer aspirar ao Absoluto não é uma
técnica: não se pode aspirar Ser Absoluto.
Isso não pode ser nem um pedido, nem
uma vontade, nem uma realização.
Nós temos insistido – no que me
concerne e a outros Anciões que lhes falaram – sobre o princípio da Refutação.
Em que seria preciso que um estado
fosse realizado para deixar o lugar a outro estado (que não é, aliás, outro
estado)?
Não há lógica sucessiva.
Há verdade relativa, construída, e
desconstruída, em seguida: o aspecto em camadas da cebola.
Mas vocês podem, muito bem, passar das
camadas da cebola para descobrir que nada há: nem camadas, nem cebola.
Não faça do Absoluto um princípio de
Realização, o que ele não é.
É apenas a partir do instante em que o
que lhes é conhecido, é refutado, que o Desconhecido estabelece-se.
Isso não quer dizer, contudo, que vocês
devam percorrer o conjunto do conhecido ou descobrir, nesse conhecido, o que
não lhes é, ainda, conhecido: isso seria sem fim.
Sua consciência – quer ela seja do eu
ou do Si – deve dirigir-se ao que cai sob os sentidos, e o que é evidente em
suas próprias manifestações da consciência, ou seja, o que já está construído.
Não procurem, agora, acrescentar outras
construções, se não, vocês vão pensar, como você o faz, que é preciso concluir
algo para ir a outro lugar, o que jamais foi dito.
Qualquer que seja o estágio da
consciência e o estado de sua consciência, fragmentária ou Unificada, isso não
faz qualquer diferença.
Eu diria, mesmo, que, quanto mais o
tempo desta Terra escoa-se, mais será fácil àquele que não tem qualquer
diligência espiritual, qualquer busca (espiritual ou de sentidos), de viver o
Absoluto, mais do que àquele que se construiu um Si sólido.
Porque o Absoluto é o Abandono do Si,
como o abandono do eu.
Isso é bem além do Abandono à Luz, que
permitiu realizar o Si, para aqueles que o realizaram.
A Liberação não se importa com estados
anteriores.
No exemplo que tomei (um dos exemplos
que tomei), há uma escada, cujos degraus aparecem progressivamente.
Portanto, vocês acreditam subir em uma
escada para ir a algum lugar, mas vocês não vão a lugar algum.
Eu tenho insistido, longamente, sobre
essa noção de olhar e de ponto de vista.
Esse ponto de vista e esse olhar nada
têm a ver com os olhos: é uma iluminação da própria consciência, uma iluminação
do observador.
Em que o observador teria necessidade
de concluir uma casa, para compreender que essa casa para nada serve?
Jamais foi dito que havia uma sucessão
de estados que permite conduzir, de algum modo, ao Absoluto.
O Absoluto não é uma finalidade: é a
Verdade Absoluta.
Se isso não lhes convém, fiquem no Si.
Eu jamais apresentei o Absoluto como
finalidade.
Se vocês fazem dele uma finalidade,
vocês fazem dele uma aspiração ou uma busca.
Contentem-se, então, de deixar a Onda
de Vida percorrê-los, sem nada procurar, sem nada esperar, sem nada pedir.
Porque, se há espera, se há pedido, se
há procura, isso não pode conduzir.
Apenas o que eu chamei a refutação
permite conduzir ao Absoluto, mas não é uma realização.
É apenas quando vocês eliminaram as
camadas ilusórias e de ilusões que lhes são perceptíveis que o Absoluto
revela-se.
Ele sempre esteve aí.
Compreendam, efetivamente, que é sua
visão e seu ponto de vista que são responsáveis, quanto ao seu afastamento: o
Absoluto jamais se moveu, ele está, sempre, ao centro.
Vocês é que saíram do centro.
Vocês não são nem responsáveis nem
culpados: não há nem responsável, nem culpado.
Há apenas um olhar diferente.
Há apenas que reconhecer sua
ignorância.
Há apenas que refutar o que é efêmero e
que lhes é perceptível.
A primeira das coisas que lhes é
perceptível não está no fim do mundo: é seu corpo.
A segunda coisa que lhes é perceptível:
é seu mental.
O terceiro elemento que lhes é
perceptível: são seus apegos.
Há, já, o trabalho, que não é um
trabalho, mas uma investigação.
Façam a investigação sobre o que lhes é
perceptível.
Não lhes é pedido um discurso de
teologia para saber se CRISTO foi crucificado em tal lugar ou em tal outro
lugar: isso, estritamente, nada lhes aportará, a não ser nutrir o mental,
nutrir as crenças, nutrir as ideias.
Vocês não são uma crença, não são uma
ideia, qualquer que seja.
Não há, portanto, aspiração possível ao
Absoluto.
Conceber assim é afastar-se, ainda
mais.
O Absoluto não será, jamais, um estado.
Lembrem-se: não há passagem possível a
partir de um ponto de apoio conhecido para o Desconhecido.
Todos os pontos conhecidos não são
pontos de passagem, mas obstáculos e resistências.
Vocês não têm que lutar contra.
Vocês têm apenas que ver e reconhecer
essas resistências e esses obstáculos, não para compreender o sentido deles ou
a origem, mas o sentido primeiro, ou seja: elementos limitadores e
modificadores do que vocês São, em Verdade.
É desse ponto de vista – se se pode
dizê-lo – que vocês devem – se se pode dizê-lo – partir, ou começar o que não
pode ser, em caso algum, uma busca, mas, efetivamente, como eu nomeei, uma
investigação.
Essa investigação não é um jogo mental,
mas é um Jogo Divino, que vai permitir siderar-se, ou fazer interromper as bases
de funcionamento da personalidade e do Si.
Aí está o único objetivo.
Todo o resto – aspiração, desejo –
seria apenas projeção.
O Absoluto não pode, em caso algum, ser
uma projeção, um objetivo ou uma finalidade.
É nesse sentido que eu o nomeei Final.
Mas esse Final não é a consequência do
que está antes, uma vez que esse Final contém todo o resto.
É um conjunto, que contém um
subconjunto, uma multidão de subconjuntos.
Nenhum dos subconjuntos conhecidos
conduz ao conjunto, é impossível.
O conhecimento das partes não lhes
dará, jamais, o Conhecimento do global e da Totalidade.
Isso não funciona de acordo com um
princípio aritmético.
***
Questão: o que me impede de perceber o
Canal Mariano?
Você mesma.
Você não se apagou.
Não lhe sendo dado, o Duplo e seu Canal
não podem aparecer-lhe.
O sacrifício do Si ou o Abandono do Si
– Crucificação e Ressurreição, se preferem essa terminologia – não pode
realizar-se enquanto exista uma veleidade, da pessoa ou do Si.
O Canal Mariano está presente em todo
ser humano.
A conscientização dele, se posso
exprimir-me assim, é possível apenas a partir do instante em que a consciência
não está mais focalizada no eu ou no Si.
O único obstáculo é você mesmo, no que
você crê ser, ao invés do que você É.
Do mesmo modo que lhes foram
explicitados alguns dos mecanismos da Onda de Vida, é o mesmo para o Canal
Mariano.
O aparecimento da Onda de vida, a
revelação da Onda de Vida não se importa com o eu, não se importa com o Si.
Apenas, justamente, quando o eu e o Si
apagam-se é que o Canal Mariano é constituído, o que quer dizer que vocês devem
desaparecer como pessoa, desaparecer como indivíduo, tornar-se Transparente,
inteiramente: nada parar, nada reter, nada refrear e não manifestar qualquer
vontade são as condições indispensáveis ao aparecimento consciente, à
consciência do Canal Mariano.
Foi dito que, no momento oportuno, o
Canal Mariano estaria presente sobre o conjunto da Terra.
O fato de que ele não esteja presente,
agora, além do que eu expliquei, é tão significativo para vocês como o fato de
apreender que seu tempo ainda não chegou.
Mesmo se o Tempo da Terra chegou, e
terminou, vocês não estão, todos, eu diria, sincrônicos e sintonizados no mesmo
tempo.
Não concebam, nisso, nem culpa, nem
raiva, nem impaciência, nem espera, porque é o melhor modo de retardar isso.
Quando nós lhes dizemos para nada fazer
e para deixar fazer, é a estrita Verdade, no que concerne ao Absoluto (não no
que concerne ao Si, nem ao eu).
O Absoluto – e essa linguagem é
metafórica – sobrevém, enquanto ele já está aí, apenas a partir do instante em
que todo jogo de consciência, qualquer que seja, cessa.
Enquanto existe a mínima vontade,
existe uma forma de tensão, não satisfatória, para um objetivo.
O Absoluto não é um objetivo: ele já
está aí.
É apenas seu olhar que deve mudar.
Mas essa mudança não é um trabalho, nem
uma ascese, nem o que quer que seja: é um deslocamento do observador, que
desaparece.
Como vocês querem que o observador
desapareça, se vocês observam, permanentemente?
As premissas são, antes de tudo: a
Dissolução e a Multilocalização, e Fusão com o Duplo.
Além disso, que não tem, tampouco, que
ser procurada (a Comunhão pode ser procurada, a Fusão pode ser procurada), a
Dissolução estabelece-se por si mesma.
Procurá-la congela-a, e a impede, porque
a Dissolução, como a Onda de Vida, nascerá, de maneira perceptível, apenas
quando vocês estiverem prontos.
Mas, para estar pronto, nada há a
fazer, justamente.
Voltem a tornar-se como uma Criança:
Simples, Humildes, Transparentes e Espontâneos.
Esses Quatro elementos, ou Quatro
Pilares, que lhes foram dados, são a chave (ndr: as intervenções nas quais
esses Quatro Pilares foram apresentados são indicadas em «Os Quatro Pilares do
Coração» - coluna «Protocolos a Praticar», de nosso site).
Como você quer ser Espontâneo, quando
procura algo?
Como você quer ser Transparente,
enquanto não está apagado?
Enquanto você intercepta um pensamento,
enquanto intercepta um desejo, enquanto intercepta uma observação exterior,
você se afasta.
Do mesmo modo que o conhecimento afasta
do Absoluto, nenhum conhecimento de todos os mistérios dos Universos
torná-los-á Livres: ele os escravizará.
Mas, se sua sede de experiências é tal,
então, vivam suas experiências, não se ocupem do Absoluto.
Eu repito, a investigação não é uma busca.
O conhecimento, tal como vocês o
aplicam nesse mundo encarnado, é ignorância.
Se vocês se liberam disso, o Absoluto
está aí.
Não há alternativa, não há outra
possibilidade.
Vocês não podem aplicar os princípios
do Si ao Absoluto.
Justamente, é exatamente o oposto.
***
Questão: o Absoluto é um estado que o
mental não pode compreender, e eu giro em círculos. Quais são os obstáculos que
me impedem de estar nesse estado de Absoluto?
Seu mental.
Você tem a resposta no próprio
enunciado de sua questão.
O que é que gira em círculos, se não é
o mental?
Você enuncia a resposta, e você põe a
questão depois.
Se você apreende isso, você pode apenas
ver que é seu próprio mental que gira em círculos.
Você não pode girar em círculos, uma
vez que está ao centro, e você é Absoluto.
O que gira é o mental, com uma força
centrífuga.
E, quanto mais você gira, mais se
afasta.
Basta parar de girar em círculos,
permanecer imóvel e tranquilo.
Enquanto há questionamento, há erro.
E eu responderei, como precedentemente,
o único obstáculo é você mesmo, remetendo-a, com isso, aos quatro fundamentais
ou Quatro Pilares, nomeados: Humildade, Simplicidade, Transparência,
Espontaneidade (ndr: ou Infância).
Se aplica isso, você não pode girar em
círculos.
O que gira em círculos é o eu, antes de
tudo, e o Si, em certa medida, embora mais próximo do centro.
Porque você procura o Absoluto: você
não pode procurá-lo, ele já Está aí.
Eu não lhe pedi para compreender, nem
analisar porque, no momento em que você apreender, verá minhas palavras como
uma evidência, mas, daí onde você está, você não pode compreendê-las.
É preciso aceitar mudar de lugar, de
ponto de vista, de olhar, sem colocar-se questões.
As questões concernem à refutação, à
investigação.
Mas eu repito que a resposta é a
preliminar à questão que você colocou, e você a deu, você mesma.
O Absoluto, o centro, o Final,
desvendam-se, a partir do instante em que todo o resto, sem qualquer exceção, é
solto.
O próprio fato de girar em círculos
mostra que você não soltou, uma vez que você gira.
Você não está imóvel, você não está,
mesmo, no lugar do observador, você está, ainda, atuando na cena de teatro.
Coloque-se, recoloque-se, não gire
mais.
Tudo está aí, e sempre esteve aí.
***
Questão: vivo, nesse momento, um
paradoxo com a sensação de não estar nem aí nem alhures, mas de estar em lugar
algum. De fato, eu não sei onde se situa a consciência. O que acontece?
Justamente, nada acontece, e é ótimo, e
não é um paradoxo: é uma evidência.
Se a consciência não está aqui, não
está alhures, é que ela está em lugar algum.
Não estando em lugar algum, ela está,
ao mesmo tempo, por toda a parte e ausente.
Qual melhor aproximação pode existir do
Final?
Resta apenas superar, aí também, o
testemunho disso.
É, justamente, no momento em que a
consciência não está mais localizada nesse corpo, nesse Si, que a consciência
parece dissolver-se, não estar nem aqui e alhures, em lugar algum e por toda a
parte, que o Absoluto está aí.
Eu repito: não é um paradoxo, é uma
evidência.
Você reconhece, assim, por si mesmo,
sua ignorância quanto à própria localização de sua consciência.
Isso não é a opacidade, é a
Transparência.
A consciência não se apoia mais sobre
um corpo, não se apoia em outro espaço, em outro tempo e, no entanto, pode-se
dizer que ela está deslocalizada.
Isso acompanha, ou precede, ou segue a
Dissolução.
Não seja perturbado por sua própria
Transparência.
Você deve aperceber-se de que, nesse
estado de não consciência ou de consciência deslocalizada, você não pode mais
apreciar uma densidade.
Você está, portanto, na leveza.
O que você chama paradoxo é apenas o
desconforto do que não está, ainda, estabelecido de maneira firme.
Eu o convido, portanto, aí também, a
repousar.
Deixe fazer o que se vive.
São, de algum modo, as primícias da
deslocalização e da multilocalização.
Resta, apenas, não a refutar isso, mas
a aceitá-lo, inteiramente, sem ali investir-se, sem ali apegar-se.
Assim que você o constata, não o
explique, mas viva-o.
Abandonar o Si é dar-se a isso.
Se você se dá a isso, então, o Absoluto
está aí.
Isso lhe dá uma aproximação do que eu
chamei o Absoluto sem forma, mas, como sua forma ainda está aí, o paradoxo está
aí.
Mas o que lhe parece, ainda, paradoxo,
no que eu acabo de enunciar, tornar-se-á, também, evidência.
***
Questão: poderia desenvolver sobre:
viver a permanência do instante presente?
O instante presente participa do Si.
Viver a permanência do Instante
Presente é estar instalado no Si, no espelhamento espiritual de sua própria Luz
projetada na tela da consciência.
Viver a permanência do instante
presente é desfrutar do Si, desfrutar dos Samadhi,
mas não é Absoluto.
Muitos Irmãos e Irmãs comprazem-se
nisso, e está perfeito, porque, jamais, deve-se julgar qualquer diligência que
seja.
Mas viver isso não desembocará, jamais,
no Absoluto e, ainda menos, na Liberação.
É realizado um estado e, aliás, isso se
chama o Despertar ou a Realização.
E, depois, o que há depois?
Uma vez que o saco de alimento partiu,
uma vez que o saco de pensamentos não existe mais?
O que resta viver a permanência do
instante presente?
Nada, absolutamente.
Portanto, é ilusório e efêmero, mesmo
se seja gratificante para o ego, para o bem-estar.
Viver a permanência do instante
presente é aceitar o efêmero.
Um efêmero mais belo, mais bonito do
que o efêmero do eu, mas continua um efêmero, mesmo permanente.
Qual é essa permanência?
Ela é inscrita entre o nascimento e a
morte, no mais amplo.
Mas, antes, mas depois, onde está a
permanência?
Onde está o instante presente?
Você percebe que há, por trás dessa
expressão, a satisfação de um ego espiritual e um impedimento de ir além?
Essa imobilidade não é o centro, essa
permanência não é permanente, uma vez que é limitada pelo nascimento e a morte.
O que você É não é limitado nem pelo
nascimento, nem pela morte.
É muito difícil, para aquele que vive a
permanência do instante presente, Liberar-se disso.
É o espelhamento do Si, esse
espelhamento da Luz, que foi chamado ilusão e que conduz a todos os excessos, a
todos os confinamentos.
É permanecer espectador de um estado,
observador de um estado.
É desfrutar do efêmero, tomando-o pelo
Eterno, mesmo se isso seja muito satisfatório.
O «eu sou», afirmação da Presença, é
apenas uma farsa, no entanto, indispensável para muitos.
Realizar o «eu sou» não é ser Liberado,
mas estar ainda mais confinado.
Mas é livre a vocês afirmar o «eu sou»
e permanecer nisso porque, para muitos, isso é um objetivo e uma aspiração, uma
finalidade, um conjunto que é um subconjunto e que é considerado como um
conjunto, no entanto.
Isso não é o centro, mesmo se a
cintilação e o espelhamento da Luz possam preencher.
O objetivo não é ser preenchido.
A finalidade – se é que se possa
empregar essa palavra – não é ser preenchido, uma vez que a perfeição já está
aí, desde sempre: é o que você É.
Instalar-se Aqui e Agora, no instante
presente, realiza o Si, o estado de espelhamento no qual a Luz é vista.
Mas, se a Luz é vista, é que, ainda,
ela é projetada.
O Absoluto não é isso.
Mas vocês devem aceitar, como eu o aceito,
sem qualquer problema, que, para muitos, isso seja um objetivo e uma
finalidade.
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Mensagem do Venerável BIDI no site
francês:
03 de junho de 2012 - BIDI2 - Parte 2
(Publicado em 04 de junho de 2012)
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Trecho traduzido para o português por
Célia G.
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