- Intervenção de Jiddu Krishnamurti -
“A Transparência é exatamente o momento que ocorre quando não existe mais a concepção, quando não existe mais a percepção.”
“Somente a não percepção os faz passar para a Outra Margem. Antes, isso é impossível.”
~ A NÃO-PERCEPÇÃO ~
Meu nome é IRMÃO K. Irmãos e Irmãs,
estabeleçamo-nos na Comunhão.
... Partilhando
a doação da Graça ...
Eu venho a vocês, neste dia, para tentar exprimir o
que é, a priori, complexo, mas espero
que através de nossa Comunhão, as Vibrações e as palavras que vou empregar,
permitirão simplificar.
Iremos abordar o tema da
não-percepção, levando, como sempre, de início, a definir o que é a percepção e em
qual contexto ela se inscreve, em relação à consciência e em relação à vida tal
como vocês a conhecem e tal como ela é.
A consciência na encarnação, qualquer que ela seja,
baseia-se na experiência de sua própria percepção, ela se baseia em certo
número de elementos que lhe permitem interagir, de forma permanente, com si
mesma e com o conjunto de viventes sobre este mundo.
A consciência vai então apresentar uma série de
atributos que vão resultar em um certo número de eixos, mais ou menos
presentes, mais ou menos importantes.
O primeiro desses eixos concerne à concepção, e entendo por concepção tudo
o que pode ser um modo de interação, no sentido amplo, e que é oriundo
diretamente dos mecanismos do pensamento, dos mecanismos de adesão às crenças
assim como do conjunto das experiências da encarnação tendo imprimido, no ser,
alguns elementos.
Vem em seguida a percepção.
A percepção é a
capacidade da consciência de receber e emitir um certo número de elementos lhe
permitindo, através dos sentidos, e para alguns, além dos sentidos, receber um
certo número de sinais que vão, de maneira inelutável, encontrar-se em
interação, em um primeiro momento, com a própria percepção, a concepção e a
percepção então em interação.
No nível da concepção, nós podemos deixar entrar
também a educação da própria sociedade, a própria cultura, o meio cultural, o
conjunto dos afetos, o conjunto das experiências que foram conduzidas após o
aparecimento neste mundo, quer seja nesta vida ou no que é denominado
correntemente outras vidas.
***
O problema é que a
consciência do ser humano na encarnação apresenta uma série de filtros.
Esses filtros foram denominados
Véus.
Esses Véus, que podem, em um primeiro momento,
facilitar o acesso à outra coisa além do que é visível ou percebido pelo comum
dos mortais, não é mais, como vou tentar lhes explicar e demonstrar, senão um
filtro que modifica, certamente, a percepção, deixando-se ver o que é invisível
para os sentidos mas que não é menos colorido, ele também, pelas suas próprias
concepções, suas próprias ideias, suas próprias organizações, Internas e também
sociais.
Falarei então da percepção limitada, no sentido em
que é a percepção correspondente aos sentidos habituais e comuns a cada ser
humano, mais ou menos acentuados, mais ou menos evidentes, quer isso se trate,
por exemplo, da audição onde, no plano estritamente físico, existem é claro, tanto déficits de audição
como uma audição que é qualificada de absoluta, o ouvido absoluto.
A consciência evolui então, e se manifesta, por um
mecanismo que foi chamado de projeção da consciência, em meio a um dado
ambiente, que vai dar as percepções.
Percepções sensoriais, percepções ligadas às concepções
inscritas tanto no humano como na sociedade.
Da interação, por exemplo, da concepção do humano e
da concepção da sociedade resulta uma adequação ou uma inadequação do humano em
relação ao seu ambiente.
***
A percepção pode
também recorrer ao que eu denominaria percepção expandida.
É essa que eu lhes descrevi por tê-la vivenciado no
momento de um choque vivido em minha encarnação passada.
Essa percepção expandida excede o contexto dos
sentidos, excede então o contexto usual e vai se traduzir por uma amplificação
da percepção, excedendo largamente os contextos usuais e se dirigindo a algum
lugar, maravilhoso, que era então invisível na percepção limitada.
A percepção expandida se
dá em um modo não sensorial, mas extrassensorial, podendo recorrer,
eventualmente, a sentidos mais sutis do que aqueles que lhes são conhecidos,
como por exemplo a clarividência, a clariaudição, a clarissenciência, a
intuição.
Essa percepção expandida dá então acesso ao que é
qualificado de invisível ou de não percebido pelos sentidos ordinários.
Não esqueçam que a percepção limitada (como a
expandida) vai necessariamente encontrar-se confrontada com suas próprias experiências
e com suas próprias construções mentais e também afetivas.
***
A percepção limitada, assim como a percepção
expandida, ambas correspondem a projeções da consciência que provocam, por sua
vez, um sinal podendo ser ele também, e sendo, necessariamente filtrado pelas
concepções e também pelos diferentes filtros chamados de corpos sutis que têm,
eles mesmos, apenas permitido perceber o que era então não visível, não
percebido no sentido da percepção limitada.
Um como o outro são então condicionados e
condicionantes.
Eles não são livres da interferência da
consciência, eles não são livres do julgamento, não são livres do
livre-arbítrio, mas se inscrevem segundo um princípio chamado de evolução,
específico deste mundo.
Qualquer concepção, limitada como expandida, vai
modificar os véus que permitiram essa percepção.
O primeiro dos véus
concerne, evidentemente, ao que eu chamaria de afeto ou afetivo, em seu sentido
mais amplo, correspondendo ao corpo astral, ao corpo emocional ou, se vocês
preferirem, ao corpo de desejo.
Como resultado, podemos dizer que tanto o que é
visto na percepção limitada como na percepção expandida resulta, de certa
maneira, da qualidade do corpo de desejo, de sua presença, de sua rarefação,
mas também do que constitui as concepções que interagem com este corpo de
desejo, denominado corpo mental ou o véu mental.
***
O véu mental é
constituído das crenças, das ideias e das experiências que ajudaram a formar, a
construir diretamente a personalidade, dando-lhe um quadro de referências e de
ajustamento ao ambiente.
O ambiente sendo ele mesmo formado, através da
cultura, da educação, da experiência vivida com familiares e as diferentes
relações construídas, faz com que a mesma realidade deste mundo não se traduza
pela mesma realidade em meio à concepção, para cada Irmão e cada Irmã.
A diversidade das crenças, das ideias, das emoções
e dos afetos traduz indiscutivelmente esse princípio e é o que faz a diversidade,
a riqueza do que é chamado de vida deste lado aqui em que vocês estão.
***
Nenhuma dessas percepções
dá conta da Verdade absoluta ou do real.
Muitas vezes foi dito que o invisível não era a
verdade sobre este mundo e que o que era visível para os olhos, para os
sentidos ou para as percepções era apenas filtrado, de alguma maneira e
confrontado, de alguma maneira, com suas próprias experiências.
Assim sendo, por exemplo, o que é chamado de
sentimento.
Muitos Irmãos e Irmãs confiam em seus sentimentos,
sem duvidar um segundo que o
sentimento é, ele também, passado pelos filtros do véu astral e do véu mental.
E, portanto, também submetido a uma dualidade
inexorável já que existem coisas, e vocês sabem, que lhes parecem justas, que
lhes parecem injustas, que lhes parecem boas ou que não lhes parecem boas para
vocês ou para o outro, mas sempre em relação a um sistema de filtros ou de véus
ligados às ideias, às crenças, à educação e ao sistema social.
Já fica aparente que tanto a percepção limitada,
como a expandida, são alteradas pela própria interação existente em meio a este
mundo.
***
A questão que se coloca é, portanto, saber se a
percepção, como a concepção, podem se aplicar evidentemente além das leis e das
interações deste mundo.
A resposta, através do que vocês vivem, do que
vocês têm lido, leva-os a pensar e a viver que isso não é verdadeiro.
O sentimento de um não é
o sentimento do outro.
E contudo, o que é observado pode ser estritamente,
exatamente o mesmo objeto, a mesma consciência, a mesma energia, o mesmo
acontecimento, podendo se traduzir, para um Irmão e um outro Irmão, como
opostos.
Dito de outra forma, o
que é bom para um não é bom para o outro.
Podemos razoavelmente
considerar que isso é assim em outros lugares.
E o podemos afirmar, e é o que vou tentar lhes
desenvolver, que enquanto existir uma percepção, enquanto existir uma
concepção, enquanto o que é chamado de véus ou corpos sutis estiverem
presentes, nenhum elemento restabelecido à consciência pode ser exato, porque
ele é, como acabei de explicar, colorido pela presença dos ditos véus, dos
ditos corpos sutis, mesmo no que concerne às coisas não visíveis, ou seja, em
meio à percepção expandida.
***
A concepção é ela própria resultado do conjunto das
crenças de tudo o que foi experimentado ou do que vocês tenham eventualmente
aderido sem mesmo se colocar a questão de saber porque vocês aderiram a tal crença,
porque ela lhes parece justa.
Mesmo se não existir sentimento associado, nem
percepção associada.
Assim é a história do
gênero humano sobre este mundo, onde se traduz, nesse nível também, uma espécie
de filiação, confinante e alienante, privando-os da Liberdade.
***
Tudo o que é conhecido, provável e experimentável sempre
vai se referir apenas ao seu próprio ponto de vista, como foi dito, ou seja,
apenas aos seus próprios filtros, e seus filtros não são os mesmos que os de um
Irmão ou uma Irmã, e no entanto nós somos todos Um.
Então, será que existiria, além da percepção
limitada como da expandida, além das concepções, além do afetivo e das emoções,
algo que permitiria superar seus limites, de alguma forma, e permitir acessar
um Ilimitado onde não haveria, se não uma mesma finalidade, pelo menos um mesmo
suporte ou um mesmo elemento comum e que então atingiria o que chamamos de
princípio da Unidade?
***
Enquanto os véus
estiverem presentes (mesmo se lhes deixarem ver o que é dito invisível
para os sentidos), vocês permanecem e ficam condicionados por suas próprias
concepções: ideias, cultura, educação, experiências pessoais, experiências de
vidas passadas.
Será que em meio a esse
sistema que é referência a um passado, a uma experiência, pode-se encontrar uma
objetividade total?
Isso é estritamente
impossível.
O que é correto para você não é correto para o
outro.
E penso que não haverá ninguém para me contradizer,
referente também ao que vocês chamam de Amor à Luz, às religiões, aos sistemas
sociais e mesmo entre dois indivíduos extremamente próximos, não há, de maneira
infalível, a mesma percepção, a mesma concepção.
Podemos então nos perguntar, muito legitimamente,
se a percepção ela mesma, seja ela a mais expandida possível, como as mais
vastas concepções possíveis, não são senão obstáculos a algo do outro.
Já que qualquer percepção, qualquer concepção,
qualquer afeto, qualquer emoção, vão induzir uma forma de reação no indivíduo
encarnado que é o modo de expressão normal da encarnação, que podemos chamar,
da maneira mais ampla possível, de Ação/Reação.
O fato de perceber ou de conceber sendo então uma
ação, a reação se traduzindo pelo ajustamento ao que é percebido, ao que é
concebido, ao que foi a experiência pessoal.
Daí derivam todas as incompreensões existentes
sobre este mundo.
A maior parte dos seres humanos evoluem segundo o
princípio das crenças.
A algum tempo atrás, eu expliquei a vocês o papel
da imagem, o papel da visão.
O que eu disse hoje ultrapassa largamente o quadro
visual.
Vocês todos também sabem que nos sentidos mais
sutis, como a audição, a mesma música, a mesma voz pode parecer agradável ou
desagradável, ou indiferente.
E, no entanto, de modo objetivo, o som, a
música que é emitida é exatamente a mesma, no plano físico.
Mas o resultado, para um indivíduo, pode ser aí
também estritamente oposto para um como para outro.
***
A percepção pode parar?
As concepções podem
parar?
Eu entendo por parar, não
desaparecer, pois elas são a base da consciência na encarnação, e a encarnação
não é senão um jogo de interações.
Existe, então, um meio de
colocar fim aos filtros, de colocar fim à percepção limitada como à expandida,
de colocar fim às concepções e de colocar fim aos afetos e às emoções?
A resposta é seguramente:
sim, é ser Absoluto.
Evidentemente, vocês sabem que nada se pode dizer
do Absoluto, e em minha vida, eu dizia a alguns interlocutores que aqueles que
me falavam também, evidentemente, nunca tinham atravessado o Rio para ir ao
outro lado.
E certamente, enquanto
vocês não atravessarem o Rio, vocês não têm nenhuma possibilidade, pelas
percepções, pelas concepções, mesmo se sua concepção se aproximar da Verdade e
do real da Outra Margem, vocês não têm nenhuma experiência e isso permanece no
nível da crença, ou de uma adesão a um dogma.
Tudo o que não é, então, experimentado realmente
por si mesmo não apresenta nenhum sentido nem nenhuma realidade em relação à
percepção e à concepção, ou seja, que isso permanece, mesmo se chocantes.
Existiria então uma concepção limitada oriunda do
que vocês viveram, ou daquilo a que vocês aderiram neste mundo por sua
experiência, seus afetos e suas emoções.
Há, do mesmo modo, uma concepção expandida que
poderíamos chamar de ideais, mas esses mesmos ideais, sejam eles os mais
nobres, como uma aspiração ou uma tensão para um futuro melhor ou sublimado,
não são em nada uma experiência vivida.
Essa concepção expandida, seja qual for o ideal,
seja o Amor, a caridade, a compaixão ou a Idade de Ouro, permanecem apenas
projeções, mesmo que elas sejam mais expandidas, é claro, do que as concepções
limitadas que regem, por exemplo, as regras morais, sociais, políticas de sua
sociedade.
***
Ter um ideal, efetivamente, expande a concepção,
porque a partir desse momento, vocês não estão mais enrijecidos nos mecanismos
ligados à experiência passada, mas vocês tentam criar, realmente, um mundo
melhor.
Mas esse mundo melhor, que vocês querem ou não,
mesmo apoiando-se sobre conceitos ideais como o Amor, não poderá ser senão
tingido por seus próprios filtros, por suas próprias experiências.
E vai se chocar, fortemente, com o que está
estabelecido em meio à sociedade, como tecido social ou grupo social, como algo
imutável.
A novidade e a busca de novidade que vocês podem
aplicar em relação a um mundo melhor não será, em última análise, senão em
função de sua própria experiência, ou seja, de sua própria consciência.
Quer essa consciência, aí também, seja ela do eu ou
do Si.
Quer ela seja, aí também, limitada ou expandida.
Tanto uma como a outra não mudam estritamente nada.
Então, existe um meio de
ir além de tudo isso?
O paradoxal é que é necessário cessar a percepção,
cessar a concepção, cessar as emoções e o afetivo para transbordar sobre o que
sabem não ser possível como uma passagem ou experiência, mas como estado final,
denominado Absoluto.
***
Nós lhes demos elementos, elementos sobre os quais
nós temos insistido, enquanto Pilares do Coração.
Dois deles aqui, denominados Humildade e Simplicidade, lhes foram
largamente explicitados.
Mas a Humildade e a Simplicidade, enquanto
concepção, não são suficientes para ultrapassar a concepção expandida, mas
fornecem um contexto que eu chamaria de mais vasto, permitindo talvez ir além
desse contexto.
***
Há somente a Transparência que pode permitir, na ausência de percepção e
de concepção, não mais projetar a consciência e se colocar além do
sujeito-objeto e, então, na distância necessária entre um sujeito e um
outro sujeito, um sujeito e um objeto, entre um objeto e um outro objeto que
são definidos pelo que foi nominado de localização exata, uma determinada forma,
uma densidade e um conjunto de características físicas extremamente exatas, que
definem, de outro modo, o que é o objeto.
Isso é um pouco mais difícil para o sujeito, mas é
realizável, da mesma maneira, por aproximações, diversas e variadas, existindo
tanto no nível filosófico, como sociológico, como espiritual.
Mas que são apenas referências de um contexto,
experimentado ou experimentável, e que permitem, de algum modo, se desembaraçar
deste mundo no qual nós evoluímos quando estamos encarnados.
***
O que então eu quero lhes falar não tem
estritamente nada a ver com o que é definido.
E como vocês sabem, nós não podemos falar do
Desconhecido.
Nós não podemos falar do
Absoluto.
Mas se há um elemento sobre o qual eu posso desenvolver,
é a Transparência, porque a
Transparência, quando é adotada, vai resultar muito precisamente na não-percepção
e na não-concepção.
Isto é, de alguma maneira, uma extração do modo de
interação da consciência ordinária (como expandida).
Isso passa, evidentemente, pelo silêncio
sensorial.
Isso passa, evidentemente, pelo distanciamento de
suas próprias crenças, de suas próprias ideias, de seus próprios pensamentos,
assim como de seus próprios afetos e de suas próprias emoções.
O que poderia ser chamado, em um primeiro momento,
de forma de desidentificação ou de despersonalização, com todos seus
componentes negativos tais como o concebe, por exemplo, a psiquiatria.
Já que, certamente, assim
que a despersonalização ocorrer e não houver mais satisfação em relação ao
mundo, os termos de diagnóstico caem, por exemplo, na psicose ou no autismo.
Mas eu não me dirijo, certamente, a esse lado
psiquiátrico, mas aos seres humanos sensatos, que têm sido sensatos ao buscar,
de algum modo, um sentido para sua vida, algo diferente, e que é seu caso se
vocês me leem ou se vocês me escutam.
***
Então, como ultrapassar a
percepção, como ultrapassar as concepções?
Bem, é conveniente antes colocar-se fora do sujeito
e do objeto, tornar-se, de algum modo, o observador, o que foi nominado de
imutável.
A Transparência permite
isso.
Porque ela não vai negar o que é percebido, ela não
vai negar as concepções, mas largamente transcendê-las,
ultrapassando-as, para ir bem além do que está inscrito, tanto na limitada como
na expandida.
O que não ocorre senão a partir do momento em que
vocês podem, efetivamente, ir para a Outra Margem.
Não há um caminho para ir para lá, existem apenas
meios que podem fazer cessar o que é conhecido, o que é limitado, o que é da
ordem da experiência.
Os véus estão aí desde a encarnação.
É claro, essas camadas isolantes, elas estão, como
vocês sabem, no nível do Sistema Solar, tendo sido amplamente rompidas, e mesmo
algumas delas, no nível coletivo, foram dissolvidas.
Agora, exatamente, o que
pode lhes permitir dissolver seus próprios véus?
Bem, é necessário antes aceitar que vocês não podem
perceber nada através da própria consciência, nem conceber nada, através da
consciência ou da experiência, referente à Outra Margem.
***
Assim, então, muitos princípios lhes têm sido
comunicados, explicitados, como a refutação, a investigação, eu não voltarei a
isso, é claro, esse não é meu papel.
A Transparência, eu
a descobri, e ela continua, de algum modo, uma atitude particular ligada às
condições de minha encarnação em minha última vida, mas também pela capacidade
tanto de ser absorvido pelo que eu observava quanto pela vontade de não
interferir.
Era então uma vontade pessoal de não interferir com
a percepção e ainda menos com as concepções.
Isso necessita de estar
Livre de todo o julgamento, isso necessita de estar Livre de tudo a priori e antes de tudo, liberar-se de
todas as crenças, de todas as adesões aos próprios afetos, às próprias emoções
e à sua própria história.
Esse processo de abstração ou de extração de si
mesmo, ainda uma vez, não é uma despersonalização, mas vai lhes permitir poder
experimentar a Transparência.
A Transparência é exatamente o momento que ocorre
quando não existe mais a concepção, quando não existe mais a percepção.
Isto quer dizer que a percepção foi impulsionada
até o seu extremo, essa percepção expandida deixa-se ver o milagre da vida,
deixa-se ver o invisível e percebê-lo, senti-lo.
Mas, como eu disse, qualquer sentimento é
necessariamente marcado por seu próprio julgamento de valores, pela escala de
referências que lhes é própria, ainda uma vez.
Nenhum ser humano encarnado possui uma escala de
valores, de referências ou de julgamento, que seja a Verdade, uma vez que não
existe, em seu nível, como no nível de cada Irmão e Irmã, senão uma verdade
relativa.
A Verdade absoluta
situa-se bem além das capacidades deste mundo, bem além de suas capacidades de
percepção, de concepção, de afeto ou de emoção.
***
Há, portanto, um processo que poderia parecer, aí
nesse nível, como um contra-senso (absurdo).
Porque a consciência consciente dela mesma, não
pode imaginar nem mesmo supor que seu desaparecimento possa dar acesso à
Verdade ou ao Absoluto.
Especialmente desde que uma série de princípios de
preservação são onipresentes, vocês os conhecem.
Trata-se dos condicionamentos desse corpo, como do
conjunto dos condicionamentos ligados à educação.
A educação os confina, ela não os torna Livres,
porque ela os induz às crenças.
Tudo aquilo que representa as ideologias, mesmo na
matemática que reproduz a explicação deste mundo.
Mas essa explicação permanece no nível da ideia,
ela pode permitir a exploração da ciência e da tecnologia, mas em nenhum caso
pode lhes dar acesso à vivência de sua consciência, além de qualquer
consciência.
***
O elemento principal é a
Transparência e eu volto a isso.
Passar da percepção limitada à percepção expandida
vai transcender os sentidos habituais para lhes dar acesso ao que é chamado de
suprassensorial ou extrassensorial, suprassensível.
Porque eles não são percebidos pelos sentidos, mas
por outros mecanismos que vocês chamam de chakras ou projeção sutil, dos
diferentes véus, das diferentes camadas isolantes do ser humano.
A partir do momento em que vocês aceitam que o
conjunto de seus sentimentos, que o conjunto de suas percepções, que o conjunto
de suas concepções não resultam, finalmente, senão em seus diferentes filtros
pessoais, a partir do momento em que vocês cessam de interagir ou de querer
agir no que é visto, percebido, concebido, cria-se, no interior da consciência,
um estado de neutralidade.
Esse estado de
neutralidade pode, na maioria das vezes, e principalmente no que vocês vivem
atualmente, permitir-lhes encontrar as realidades ultrassensíveis.
Os melhores exemplos e
mais recentes concernem ao Canal Mariano, a Onda da Vida ou mesmo ao
Supramental.
Mas isso não é
suficiente.
***
Foi falado e explicado a
vocês, em várias ocasiões, o princípio do Abandono do Si.
Especificando que os
Quatro Pilares, Infância, Integridade (Ética, se vocês preferirem) ou ainda,
além da personalidade, a Transparência, a Humildade e a Simplicidade, eram, de
algum modo, os guias, os trilhos que iam lhes permitir superar as regras,
quaisquer que fossem e sobretudo seus próprios filtros.
No momento em que ocorre a percepção expandida, seja
qual for a forma que ela tomar, quer seja através do Canal Mariano, quer seja
através da clarividência, quer seja no nível da intuição ou de um sentimento
indefinível que não se exprime necessariamente por uma clarividência, uma
clarissenciência ou uma clariaudição mas, bem mais, por um lado que eu
qualificaria de instintivo, ou seja, que o próprio corpo pode reagir ao que é
bom para ele e ao que é mau para ele, disso todos sabemos.
Mas vocês não têm nenhuma prova (e, além disso, ela
não pode existir) a não ser pelo sentimento, instintivo ou visceral,
ajudando-os na vida deste mundo, não que seja uma ajuda para acessar ao
Absoluto, muito pelo contrário.
A partir do momento em que vocês derem crédito aos
seus sentimentos, vocês se distanciam do Absoluto, porque vocês aderem à sua
história, vocês aderem à sua experiência, a suas percepções, a suas concepções
e ao seu instinto.
Isso pode ser muito útil para prosseguirem nessa
vida, mas não vai lhes permitir, em nenhum caso, passar ao outro lado e ir para
a Outra Margem.
***
É preciso então
renunciar.
É preciso então, a um dado momento, além de
qualquer percepção, colocar em movimento um mecanismo que vai lhes dizer: “
basta” e isso se chama, de algum modo, a Maturidade.
Essa Maturidade vai lhes
mostrar, de maneira muito mais geral, que a dualidade, que o karma, a
ação/reação, que a encarnação neste mundo, não podem em caso algum inteirar-se
do que vocês São.
É claro, cada Irmão e Irmã não chega a essa
Maturidade no mesmo momento, o problema é que a Maturidade, agora, é um
processo coletivo e que não concerne ao seu indivíduo nem a uma pessoa, mas sim
ao conjunto deste Sistema Solar, que vem ao seu encontro.
Dessa maneira, é, de certo modo, urgente encontrar
o que sempre esteve aí, o que jamais desapareceu, além, justamente, de seus
filtros, de suas experiências, de suas concepções, de suas percepções e de sua
própria Consciência.
***
Claro, a percepção limitada e a percepção expandida
correspondem, de algum modo (e em todo caso são sobrepostas), à passagem do Eu
ao Si, ou seja, do estado humano comum, onde circula a energia vital, ao que é
denominado Supramental ou Vibral, deixando-se descobrir uma série de novas
características, cujos nomes foram vários no decorrer desses anos.
Houve, de algum modo, uma aprendizagem que levou a
Consciência a passar de algo limitado a algo expandido.
***
A partir do momento em que, seja qual for, ainda
uma vez, o sentido ou o que está além dos sentidos, que dá a perceber essa
percepção expandida, há um momento em que é necessário cessar tudo isso, porque
nada disso os levará ao bom porto e tudo isso apenas manterá um confinamento,
mesmo alguns elementos lhes permitirem se extrair através da Alegria, através
do Samadhi e através da
experimentação, quer seja a Kundalini,
o despertar dos chakras ou ainda a Onda da Vida, porque em tudo isso, há um
observador.
A Onda da Vida apresenta uma especificidade pois,
em um dado momento, no mais total Abandono do Si, vocês podem se tornar a Onda
da Vida e então Ser o que vocês São de toda a Eternidade, ou seja, Absoluto.
***
Qual é então o mecanismo,
que não é uma passagem, mas que permite passar de uma percepção expandida para
a não-percepção?
Bem, é justamente a Transparência.
Algo que eu manifestei desde minha mais tenra
idade, antes mesmo de ter acesso à percepção expandida.
A Transparência consiste
em se deixar atravessar, não interferir, não interagir com nada.
Isso se junta, em parte, ao princípio da não-dualidade
que vocês encontram, por exemplo, tanto no Hinduísmo no nível da Advaita, como vocês encontram no Sufismo
original ou, ainda, no Budismo original e não organizado, pois, assim que
houver organização, assim que houver estruturação, há concepção e há perda da
expansão.
E isso é uma constante.
Nenhuma tecnologia, já que é baseada no que é percebível,
perceptível ou no que é conceitualizável, pode lhes permitir, aí tampouco,
acessar outra coisa senão o Si.
A Transparência de que
falo é um estado que poderíamos qualificar de Vacuidade.
É o momento em que toda a
percepção vai se extinguir, em que toda a concepção vai se extinguir.
É bem mais do que a
meditação.
Os estados de Alinhamento,
que vocês vivem, para alguns, há muitos anos, são destinados a fazê-los ir para
isso.
***
Alguns de vocês, hoje,
vivem momentos em que a Consciência está como ausente, sem que seja dormir, propriamente
dito, mesmo se isso se sobrepor.
É nesse nível que se
situa a Transparência, no momento em que há, de algum modo, uma obliteração da
Consciência, uma obliteração dos sentidos, uma obliteração da percepção, das
concepções, das emoções e dos afetos.
É precisamente nesse
momento, que os faz sair do tempo, ou seja, da linearidade passada, presente e
futura, que os faz sair de todo o sentimento, que se encontra a solução.
Enquanto vocês ficarem no nível dos sentimentos,
vocês permanecem em sua história pessoal.
E vocês não podem ter acesso à sua história
imortal, à sua Eternidade.
Isso é uma constante.
Inteirar-se disso é a Maturidade.
Inteirar-se disso é depor as armas e Abandonar o
Si.
Mas isso somente pode acontecer quando há uma forma
de saturação, tanto dos sentimentos como das percepções, tanto limitadas como
expandidas.
É o momento em que vocês não aceitam ter nenhuma
autoridade exterior, não se referir a nenhum modelo, nenhum mestre, nenhuma
ideologia, nenhuma crença, nenhum ser humano, como a nenhum ser espiritual.
E, além disso, os princípios (percebidos pelo Canal
Mariano, para aqueles que o vivem) de Comunhão, de Fusão, têm um único
objetivo: a Dissolução e,
portanto, a Transparência.
É então a cessação completa da interação com o
mundo, visível ou suprassensível, que conduz ao fim da experiência e ao fim da
separação, ou seja, à Liberação.
***
Nós os temos então conduzido (e isso já foi
exprimido) a perceber algo do expandido, a penetrar em uma realidade ultra
sensível ou suprassensível, principalmente no nível coletivo, os planos sutis e
os planos Multidimensionais estão próximos de vocês, até deixando-se perceber a
presença tanto de desencarnados liberados como de seres espirituais.
E lembrando a vocês, como foi dito, que não é o
lado sensacional de entrar em contato com isso que os faz ultrapassar a
percepção, mas é a própria interação que resulta em algo bem mais vasto.
Dessa maneira, então, não é do seu ponto de vista
nem do ponto de vista de uma entidade Arcangélica, de uma Estrela ou de um
Ancião, que se alcança essa alquimia, mas sim na interação que se tem onde,
justamente, a distância desaparece, onde justamente o sujeito desaparece, onde
os sujeitos podem mesmo se tornar intercambiáveis, deixando-se viver o que é
nominado de Transparência.
Pois, para ser o outro, é necessário que você
esteja vazio.
Sejam quais forem os nomes que vocês empregarem.
Quer seja um princípio de Dissolução, de Fusão ou,
ainda, algo chamado de walk-in.
Tudo isso faz parte de
uma única coisa: fazê-los descobrir e aceitar a imortalidade, ou seja, o que
vocês São, no Absoluto.
***
A não-percepção não é então uma ação de recusar a
percepção.
É, sim, passar por isso, aceitar não mais interagir
com o que é percebido e ir além do que é percebido, da mesma maneira que é
necessário ir além do que é concebido, além de suas próprias experiências e de
seus próprios sentimentos.
Enquanto existir um sentimento, vocês não estão
Livres.
Enquanto existir uma concepção, vocês não estão
Livres.
Enquanto existir uma interação, vocês não estão
Livres.
Tudo o que nós temos conduzido juntos (e que vocês
têm conduzido sobre esta Terra) lhes permitiu, para muitos de vocês, viver o
Si, aproximarem-se, de algum modo, de um estado suprassensível, dando-lhes
acesso a concepções expandidas e a percepções expandidas.
Mas mesmo isso deve desaparecer.
É apenas no desaparecimento completo de todos os
véus, de todas as interações e de todas as projeções que se situa o
Absoluto.
E isso passa
necessariamente pela Transparência.
Essa Transparência não é
absolutamente uma regra moral de conduta, de personalidade para
personalidade, mas sim a Transparência da não-percepção, da não-concepção,
fazendo desaparecer todos os sinais, não recusando vê-los já que, em certos
casos, é justamente aceitando ver o que vocês têm recusado a ver que vocês
passam pela percepção e pela concepção.
Não se trata de negar as
sombras ainda presentes, mas sim de atravessá-las e não de analisá-las, se elas
existirem em vocês.
Aceitar ver-se face a face faz parte da
Transparência.
Isso não é uma Transparência que se define no
sentido horizontal (quer seja no nível de um grupo social ou de dois
indivíduos, estejam eles ligados pela paz ou pela guerra), mas é na aceitação
disso que se situa a Transparência que leva à não-percepção e à não-concepção.
***
Enquanto vocês interagirem sobre este mundo,
enquanto vocês interagirem com sua história, enquanto vocês interagirem com
seus sentimentos, vocês não estão Livres, porque vocês estão condicionados,
mesmo se o condicionamento puder parecer cada vez mais bambo, à medida em que
vocês passam da percepção limitada para a percepção expandida.
Se vocês chegarem a
apreender, além das palavras, o que eu disse, vai se tornar cada vez mais
evidente que a solução está aí e ela se chama a Maturidade, que não deriva de
uma experiência, mas que justamente deriva da saturação de experiências.
A partir do momento em que vocês chegarem a
compreender e a viver que qualquer experiência da Consciência, enfim, não os
Libera, mesmo se ela os realizar, então, nesse momento, vocês estão
prontos para viver a Maturidade.
***
Desligar-se dos afetos,
desligar-se das emoções, não para contorná-las, mas sim para atravessá-las
(atravessá-las não querendo dizer analisá-las e ainda menos vivê-las, mas
simplesmente atravessá-las) então, nesse momento, vocês constatarão que o
conjunto de seus sentimentos, que o conjunto de suas concepções e de suas
percepções concernem tanto ao corpo como à sua Consciência, que neste mundo,
desaparecem na totalidade.
Nesse momento vocês estão
na Outra Margem.
Para retomar o que disse UM AMIGO, uma outra vez, é
a posição do observador que observa um grupo de humanos.
Ou para retomar o que dizia BIDI, é passar daquele
que observa a cena do teatro para aquele que sai do teatro para ver que não há
teatro.
Enquanto isso não ocorrer, vocês estão em uma
verdade relativa.
E essa verdade relativa vai fazê-los considerar que
tudo o que escapa ao seu campo de percepção, ao seu campo de concepção, ao seu
campo de afeto e de emoção, como ao seu sentimento, não existe simplesmente e,
de seu ponto de vista, vocês terão razão.
Mais uma vez, somente a Maturidade é suscetível de
fazê-los aceitar a não-percepção, a não-concepção.
E, para isso, é preciso se tornarem
Transparentes.
A Humildade e a
Simplicidade lhes permitem chegar a essa Transparência, que não é mais
uma regra moral nem social, nem de relação, porque a Transparência aplicada a
uma relação não seria ainda senão um jogo de enganos, ligados à interação,
colocando em jogo os afetos, as emoções, as concepções e as percepções.
***
A parada de todo o sinal, como a parada de toda a
interação, como a parada de toda a projeção, como a parada de toda a
interiorização ou exteriorização, vai levá-los a esse ponto de ruptura do
equilíbrio que os faz passar, instantaneamente, para a Outra Margem.
A não-percepção não é, portanto, a cessação nem da
cognição, nem das percepções, mas sim sua suspensão, permitindo sair realmente,
concretamente, definitivamente da ação/reação.
Evidentemente, a pessoa não é absolutamente envolvida
por isso.
Evidentemente, nenhuma lei kármica, social, moral,
espiritual, filosófica ou psicológica lhes é de qualquer interesse para viver
isso.
Muito pelo contrário.
É a superação e a transcendência de todos esses
elementos que vocês têm vivido, conhecido, experimentado, inscritos no nível
consciente ou inconsciente, que cessam.
A não-percepção deixa-se então, de algum modo, viver
a Essência do que vocês São.
Enquanto isso não for alcançado, vocês não estão
Liberados.
É claro, nós sempre lhes dissemos que a Liberação
concerne ao conjunto da humanidade e que esse momento estava inscrito na
decisão da Terra, assim como nos ciclos astronômicos.
***
Muitas Estrelas estão intervindo, nesses últimos
dias, para lhes dizer que o momento chegou.
É inteiramente isso.
Da mesma maneira que UM AMIGO lhes explicou, isso
sempre esteve aí.
É simplesmente sua Consciência que não estava aí.
E além disso, sua Consciência não pode estar aí em
nenhum momento, pois é necessário que a a-consciência (não-consciência) esteja presente a fim de superar, de
transcender, de transfigurar e de ressuscitar no Absoluto.
***
E, mais uma vez, não há nisso, eu diria, nenhuma
obrigação.
Porque, se vocês não estiverem maduros, vocês não
estão maduros.
Porque, se vocês não quiserem soltar, não soltam.
Isso faz parte de sua Liberdade imprescritível,
inscrita tanto na lei de ação/reação como na Lei da Graça.
Mas, novamente, isso não pode ser um e outro, é
necessariamente um ou o outro.
Muitas estrelas também lhes têm falado, é claro, do
medo e do Amor, porque o que está subjacente, evidentemente, é o medo.
E o primeiro dos medos, que está justamente ligado
ao efêmero: a morte.
Enquanto esse medo não for, ele também,
atravessado, vocês não estão Livres.
E a Maturidade é exatamente conceber o inelutável
da Consciência, como do corpo, é exatamente a morte, seja o que for que vocês
disserem, seja o que for que vocês fizerem, seja o que for que vocês experimentarem,
independentemente de suas lembranças, independentemente de suas visões do
futuro (do seu), vocês não escapam de modo algum, a um dado momento, ao fim
desse corpo e ao fim dessa Consciência.
O que permanece então?
É nessa reflexão que se
desenrola e irá se desenrolar para vocês, o Choque da Humanidade, que é também
um Choque Individual.
Resolver a equação não é uma questão de matemática
ou de física, mas sim de Abandono, ou seja, de ir francamente para a não-percepção.
***
Se vocês realizarem isso, se vocês realizarem a
Refutação e a investigação, vocês vão superar todas as experiências que vocês
vivenciaram até agora, para se estabelecerem na não-experiência, ou seja, no Estado
de Ser.
Esse Estado de Ser que eu
diferencio formalmente do “Eu Sou” ou do “Eu Sou Um”.
Para muitos, o “Eu Sou” e
o “Eu Sou Um” foram etapas de construção indispensáveis, eu diria, de uma
escala que não existe e que, contudo, lhes foi útil, segundo seu ponto de
vista.
Mas enquanto vocês permanecerem em seus pontos de
vista, vocês permanecem confinados no medo e vocês não são, é claro, Absoluto.
Isto é, vocês não vivem a Verdade Absoluta que, no
entanto, eu lembro a vocês, sempre esteve aí.
A única maneira de passar ali, uma vez que não é
uma Passagem, de se estabelecer ali, é então passar da percepção expandida à
não-percepção.
Enquanto vocês estiverem submissos, mesmo a uma
percepção superior, suprassensível, extrassensorial, mesmo a mais agradável,
vocês não estão Livres.
Então, é claro, aqueles que estão instalados em
suas percepções, vão lhes responder que o Absoluto não existe e eles têm razão,
de seus pontos de vista, já que não tendo vivenciado, não tendo passado para a
Outra Margem, eles são obrigados a estar na negação e na recusa.
Não há alternativa para eles e vocês devem
respeitar, porque ao que vocês se opuserem neles, irá fortalecê-los
inelutavelmente.
Aquele que não quer ver, aquele que não quer não
perceber, fica reforçado.
***
A Maturidade é então o
desaparecimento do medo.
A Maturidade é então o desaparecimento de toda a noção
espiritual, de toda a noção conhecida e de toda a organização, em si como no
exterior de si.
Pois, enquanto existir uma organização, há sempre
um dominante e um dominado.
Vocês têm o exemplo absoluto de tudo isso, tanto
nos sistemas sociais como nas religiões, como nos domínios ditos espirituais.
Enquanto essa relação dominante/dominado, sabendo e
não sabendo, existir, vocês não podem ser Livres, de maneira alguma e, ainda
menos, autônomos.
A dominação, a escravidão, a noção daquele que está
acima ou abaixo, resultará sempre, em um como no outro, do medo, mesmo se o
pretexto for o Amor, porque o Amor é Livre.
O Amor não está em um
princípio de escravidão ou de relação.
O verdadeiro Amor Vibral
situa-se em uma Fusão Total da individualidade.
É a Fusão de duas
quintessências e absolutamente não uma relação, mesmo que seja satisfatória,
qualquer que seja o desejo existente ou o prazer existente nessa relação.
***
Nós construímos, gradativamente, através de nossas
diversas intervenções, esse ponto preciso de ruptura em que vocês estão.
Alguns o transpuseram, outros não.
Isso é chamado de Ressurreição ou Porta Estreita.
As condições dessa passagem dependem,
evidentemente, do que vocês alcançaram até agora.
A última sessão do Manto Azul da Graça realizou a
Fusão Total, elétrica, invisível, do Sol e da Terra.
Isso está para ser vivido em vocês, além de
qualquer percepção e de qualquer corpo, antes que o movimento coletivo, se
puder assim dizer, leve ao desaparecimento do teatro.
As circunstâncias da
Ressurreição dependem precisamente da não-percepção, ou seja, da Transparência.
Mas apreendam-se bem desse
termo em sua Essência, tal como eu o redefini e não em sua lenda pessoal ou em
uma aceitação moral, social ou racional.
Enquanto existir uma organização em vocês, essa
organização concernindo tanto às suas concepções, como aos seus sentimentos,
vocês não estão Livres.
É necessário que vocês atravessem tudo isso.
E, novamente, é uma questão de Maturidade.
Essa Maturidade não os situa acima ou abaixo, ela
não os torna superiores, mas ela é, de algum modo, a rendição.
É o momento em que a própria Consciência se dá
conta de que, seja qual for a percepção expandida, isso não tem sentido, porque
isso não tem fim, mesmo se o fim for um elemento importante nos
ensinamentos espirituais, lhes dizendo que purificando suficientemente isso ou
aquilo, vocês vão liberar um karma qualquer.
O karma existe apenas para a pessoa, ele não existe
para o que vocês São no Ser.
***
Todo o princípio da Ilusão foi o de dar sempre mais
corpo à Ilusão e de fazê-los validar essa Ilusão, seja através das leis de
ação/reação, físicas ou suprassensíveis, não lhes permitindo ter acesso a outra
coisa, mas, como por acaso, lhes fazendo sempre espelhar uma solução dita
futura, através do que é denominado evolução, transformações.
Mas enquanto vocês permanecerem na percepção ou nas
concepções, nos afetos ou nas emoções, os Véus estão sempre aí.
A questão que vocês devem
então se colocar é: “estou Maduro ou não?”
Essa Maturidade não se definindo em relação a um
número de experiências, a uma intensidade da experiência, a uma percepção, seja
ela qual for e, ainda menos, a uma concepção, mas sim no mecanismo,
extremamente fino, que os faz, como eu já disse, depor as armas e superar todos
os elementos do conhecido.
***
É a esse preço que vocês são Liberados.
As experiências que vocês têm conduzido ou que irão
conduzir, os têm aproximado dessa
Ressurreição.
Alguns de vocês já a viveram e somente aqueles que
a viveram podem testemunhá-la.
E, é claro, aqueles de vocês, entre os Irmãos e as
Irmãs encarnados que a viveram, o sabem entre eles, porque isso não deixa
nenhuma dúvida, uma vez que estão além da percepção, além do sentimento e além
de sua história pessoal.
É claro, aquele que não a viveu não pode ver isso
senão com um olhar extremamente crítico, porque ele está inscrito
necessariamente no medo.
Todos os sistemas de defesa, que concernem ao corpo
humano, que concernem aos sistemas, às organizações, às crenças, são todos
construídos no medo.
Os exemplos poderiam ser multiplicados ao infinito,
mas importa recolocar o debate, não sobre as concepções (que são o que
elas são) mesmo nos ideais mais elevados, mas no que eu nominei de percepção e
que eu lhes expliquei.
Porque a percepção, a partir do momento em que ela
se torna expandida, é dirigida muito mais facilmente.
E é então muito mais fácil de entrar na não-percepção.
Alguns de vocês a experimentam como uma aproximação
do que foi denominado Infinita Presença ou Última Presença.
São os momentos em que não existem mais parâmetros,
que são as primícias da Deslocalização.
Não sabendo mais quem vocês são, onde vocês estão,
vocês se dirigem para a Liberdade e a Maturidade e a Autonomia, não antes.
Os elementos que eu lhes expliquei são para
retomar, é claro, e para reler, porque a leitura, além da simples compreensão,
pode lhes dar o clique que irá lhes permitir superar a percepção expandida.
***
A percepção expandida pode ser definida como tudo o
que é extrassensorial: clariaudiência, clarividência, clarissenciência,
deixando-se ver o mundo astral que é também uma verdade relativa, mas que não é
nem uma finalidade, nem um objetivo, mas sim um Véu.
Ali onde estão situados todos aqueles que vão lhes
comunicar as leis da alma, as leis da evolução, a organização espiritual,
sobretudo do 20º século, mas que jamais vão lhes propor e expor o que é a
Liberação, seduzindo a alma e a personalidade e o Espírito, no conhecimento dos
mecanismos e do funcionamento da encarnação e da evolução.
O Ser não tem de evoluir, ele não pode
evoluir.
A Maturidade está aqui.
Somente o medo pode evoluir e enquanto houver medo,
há evolução, que é uma crença e, às vezes, uma percepção.
Mas isso permanece uma percepção, mesmo que seja a
mais expandida.
Somente a não-percepção os faz passar para a Outra
Margem.
Antes, isso
é impossível.
***
Irmãos e Irmãs, faço agora o Silêncio das
palavras, a fim de reforçar nossa Comunhão.
... Partilhando
o dom da Graça ...
Rendo Graças por sua Atenção.
IRMÃO K os saúda.
Até logo.
***
Mensagem do Venerável IRMÃO K no site francês:
20 de julho de 2012
***
Tradução para o português: Ligia Borges
***
Edição: Andrea Protzek e Zulma Peixinho
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